A Cidade e o Tema
Nas últimas décadas o continente latino-americano experimentou a mais impressionante modificação urbana de sua história. No Brasil, de 200 milhões de habitantes, 175 milhões vivem em cidades. Construiu-se no país um universo de cidades diversas e múltiplas, cheias de contrastes, de possibilidades, de desigualdades, de acertos.
O Rio apresenta um quadro urbano rico e complexo. Nele, as diferenças e contrastes sociais se explicitam morfologicamente e se apresentam concentradamente como um apanhado da realidade urbana do Brasil. A multiplicidade de seus espaços, a variedade de formas urbanísticas, as inúmeras condições de inserção construtiva em geografia tão peculiar e caprichosa, produziram trechos urbanos que, de certo modo, sintetizam inúmeros caminhos da arquitetura do século 21.
O desenvolvimento econômico assimétrico produziu ambientes urbanos de grande nitidez.
O fenômeno das favelas, embora ocorra em muitas outras cidades dos países em desenvolvimento, no Rio tem uma presença invulgar. De fato, as favelas são expressão do modo como parcela importante da população pobre construiu suas moradias em busca da inserção na vida urbana. Elas têm sido tratadas mais recentemente com políticas públicas inovadoras. Destaque-se o Programa Favela-Bairro, conduzido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, visando a plena urbanização desses assentamentos, e que já completa duas décadas de expressivos resultados. Essa experiência tem tido desdobramentos em outras cidades brasileiras e do exterior.
O fenômeno da cidade segmentada é outro fruto daquela assimetria, que também resulta do modelo rodoviarista de mobilidade, que se tornou hegemônico há cinquenta anos, bem como de doutrinas arquitetônicas em franca contestação. Enclaves arquitetônicos de alta renda têm tido crescente presença na cidade – sobretudo em suas áreas de expansão - e igualmente exigem uma ampla reflexão.
Ainda o fenômeno do adensamento, em edifícios residenciais de grande altura, tem sido outro modo caracterizador de parte da paisagem urbana carioca e brasileira, em geral.
Contudo, a expansão de periferia, em baixa densidade, com moradias em loteamentos com carência de infraestrutura, talvez seja o modo dominante da habitação popular das cidades brasileiras.
Mas está no usufruto do espaço público sua qualidade mais expressiva. No Rio, tal usufruto se contrapõe à fragmentação e ao isolamento. Para além do sistema de espaços públicos convencionais, com intensa vitalidade, a partir do início do século XX a cidade paulatinamente incorporou à vida urbana os espaços das praias marítimas. Desfrutando de mais de 40 km de praias urbanas, livres, abertas, disponíveis para o conjunto da população, o Rio de Janeiro construiu um modo de vida onde a interação social tem alta expressão.
Esses modos de ocupação e uso do território urbano exemplificam a diversidade espacial do Rio de Janeiro. Mundo distinto e específico que, contudo, constituindo-se em cidade múltipla, cheia de contrastes, de possibilidades, de desigualdades e de acertos, também é relativo a muitas outras cidades grandes brasileiras e da América Latina.
Mas a noção de finitude do planeta nos impõe novos desafios na busca da preservação e da sustentabilidade – tanto do meio-ambiente como da própria cultura. Afirma-se a compreensão de que nosso trabalho de arquiteto deva ser um dos protagonistas da construção de um mundo mais atento aos problemas sociais e ambientais contemporâneos.
Justamente se fortalece a ideia de um só mundo, interrelacionado pela comunicação, economia e cultura, mas, sobretudo, pelo compromisso de superação das grandes questões de nosso tempo.
A arquitetura enriquece sua experiência sem dogmas.
As tecnologias avançadas, utilizadas nos equipamentos culturais e esportivos relacionados com a preparação da cidade como sede dos Jogos Olímpicos de 2016; a nova e abrangente rede de transporte público de alto rendimento, que interliga toda a cidade; o seu riquíssimo acervo arquitetônico multi secular, do colonial ao contemporâneo; as intervenções urbanísticas nas favelas; o compromisso com o enfrentamento dos problemas ambientais, sede que foi da Cúpula do Ambiente – ECO 92 e da Rio+20, em 2012, fazem do Rio uma cidade voltada para os desafios do século 21.
Uma cidade pronta para a descoberta de arquitetos de todo o mundo.
A vivência do vínculo essencial entre a natureza exuberante e a arquitetura, ao longo do tempo, forma no Rio um cadinho de situações de grande interesse para o estudo do espaço e da construção.
“Todos os mundos. Um só mundo. Arquitetura 21” tem o Rio de Janeiro como cidade síntese.
Para além das razões que qualificam a cidade como sede, a realização do Congresso Mundial de Arquitetos 2020 no Rio fará com que a América Latina reforce seus vínculos com a entidade maior de representação dos arquitetos – a UIA.
2020 será a oportunidade de sediar o Congresso Mundial da UIA na América Latina depois de 42 anos, desde a realização na Cidade do México, em 1978. Recorde-se que, depois dessa data, já foram realizados cinco Congressos na Europa (último em Turim, 2008), dois Congressos na América do Norte (último em Chicago, 1993), quatro na Ásia (último em Tóquio e em Seul, 2017) e um na África (Durban, 2014).
Em 2020 o Instituto de Arquitetos do Brasil IAB estará vivendo o seu centésimo ano de fundação.
O IAB, membro-fundador da UIA, é a entidade-mãe das demais quatro entidades nacionais dos arquitetos e urbanistas brasileiros: Federação Nacional de Arquitetos FNA (sindical), Associação Brasileira de Escritórios de Arquitetura AsBEA, Associação Brasileira de Arquitetos Paisagistas ABAP e Associação Brasileira de Ensino de Arquitetura ABEA.
Depois de cinquenta anos de lutas do IAB pela valorização profissional, e, à medida que as demais entidades foram criadas, também com o seu apoio, finalmente em 2010 foi promulgada lei criando o Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil CAU BR, autarquia federal incumbida de regular e fiscalizar a profissão.
Podemos dizer que, agora, a profissão dispõe de instituições que abrangem todo o seu espectro de necessidades culturais, regulatórias e sindicais. Ademais, o quadro de profissionais de arquitetura atuantes no Brasil é, atualmente, de mais de 100 mil arquitetos registrados. O número de escolas de arquitetura ultrapassa 300 cursos, com cerca de 40.000 estudantes. Esse universo profissional e em formação vive momento de grande expectativa frente às grandes mudanças estruturais por que passa o país. O IAB e as demais entidades profissionais entendem que é oportuno um trabalho de grande envergadura e unidade visando à qualificação desse quadro profissional, de maneira a reforçar a inserção do trabalho dos arquitetos como instrumento para o desenvolvimento do país e melhora das cidades. Assim, em preparativo para o Centenário do IAB, os próximos anos deverão ser dedicados a uma ampla mobilização de arquitetos e estudantes com tal propósito.
É nesse contexto que a realização do Congresso Mundial de Arquitetos UIA 2020 pode representar um elemento catalisador de esforços e de reflexão. Por isso, todas as entidades nacionais acima elencadas apoiam firmemente a candidatura do Rio de Janeiro como sede do Congresso UIA 2020.
Igualmente, a Federação PanAmericana de Associações de Arquitetos, FPAA, e o Conselho Internacional de Arquitetos de Língua Portuguesa, CIALP, são apoiadores do UIA2020RIO desde o início da candidatura. A ANPARQ, Associação Nacional de Pesquisadores de Arquitetura, que reúne os acadêmicos-pesquisadores brasileiros de arquitetura, também se integra ao rol de instituições apoiadoras.
O Instituto de Arquitetos do Brasil e as demais entidades que ajudam a estruturar a profissão de arquiteto no país oferecerão todo o apoio a programas de intercâmbio cultural para os associados das entidades seções-membros da UIA.
O Congresso UIA 2020 RIO tem o necessário apoio dos governos municipal, estadual e federal. O grande desenvolvimento de empresas industriais e de serviços ligados à arquitetura e à construção no país terá interesse em recepcionar os arquitetos visitantes bem como participar dos eventos paralelos à realização do Congresso. O Rio de Janeiro tem recebido distinguidos prêmios como cidade acolhedora.